
Abordagem Clínica

SINDROME DO IMPACTO
O complexo do ombro é a articulação com mais mobilidade do corpo humano; possui pouca sustentação de estruturas passivas e depende de mecanismos musculares para garantir sua estabilidade. É um conjunto de quatro articulações (Escapulotorácica, Esternoclavicular, Acrômioclavicular e Glenoumeral) envolvendo o Esterno, a Clavícula, as Costelas, a Escápula e o Úmero.Esta série de articulações fornece extensa amplitude de movimento para a extremidade superior, aumentando assim a capacidade de manipular objetos. Elas funcionam como elos, onde um elo enfraquecido, dolorido ou instável, em qualquer lugar ao longo da cadeia diminui significativamente a eficiência de todo complexo.
A sincronia que ocorre entre o úmero e a escápula denomina-se ritmo escapuloumeral e a junção escápula, clavícula e úmero é chamada de cintura escapular.Além do sistema ósseo e articular temos estruturas que chamamos de partes moles que são os músculos, os ligamentos, os tendões, veias e artérias, nervos e as bursas, que passam entre as articulações, havendo necessidade de um espaço fisiológico para que não haja compressão de tais estruturas.Logo acima da articulação glenoumeral existem duas bolsas, localizadas de forma a evitar constantes atritos entre as partes ósseas e os tecidos moles, chamadas subdeltoidea e subacromial. Especificamente, essas bolsas localizam-se numa zona de deslizamento entre um espaço formado pelo arco acromioclavicular.

A Síndrome do Impacto do Ombro (SIO) é uma patologia inflamatória e degenerativa caracterizada por impactação mecânica ou compressão de determinadas estruturas que se localizam no espaço umerocoracoacromial, especialmente o tendão do supraespinhal, o tendão da cabeça longa do bíceps, a bursa subacromial (pequena bolsa contendo líquido que envolve as articulações e funciona como amortecedor entre ossos, tendões e tecidos musculares) e a articulação acromioclavicular.
Essa síndrome progride podendo causar microlesões nas estruturas citadas com possibilidade de fibrose da bursa subacromial, tendinite ou até mesmo ruptura do manguito rotador. A SIO é de natureza microtraumática e se caracteriza por tendinite do manguito rotador, com possíveis rupturas tendinosas parciais ou totais.


A SIO é a patologia mais comum na cintura escapular, podendo aparecer em ambos os lados com prevalência maior em indivíduos com idade entre 40 a 50 anos. O uso excessivo do ombro em flexão anterior ou abdução predispõe o impacto, o que deixa evidente a possibilidade de acometimento de indivíduos jovens, mesmo com idade inferior a 20 anos. Outra causa relevante para a patologia é a relação com algumas atividades de trabalho, comum em trabalhadores que exercem funções com o ombro em elevação por longos períodos. Acometem também atletas que praticam voleibol, natação, peteca, arremessos de peso e dardos, tênis, entre outros.
O quadro clínico é variável, mas a diminuição da força muscular, dor e consequente limitação funcional são evidentes. A dor é proporcional ao nível de inflamação da musculatura, e se localiza ao redor do ombro, podendo se irradiar para o cotovelo e região escapular. Durante a avaliação se observa presença de arco doloroso entre 70 e 120 graus, causado pelo impacto subacromial, onde a dor diminui após os 120 graus de elevação. Os principais métodos diagnósticos para identificação da SIO são ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética, e o raio x (RX), que pode auxiliar na identificação de alterações estruturais. O complexo do ombro pode ser avaliado por elementos subjetivos e objetivos, sendo relevantes a anamnese e o exame físico.
O exame físico avalia a inspeção óssea, palpação óssea, avaliação da amplitude de movimento (ADM) e força muscular, verificação dos reflexos e nível de sensibilidade, e aplicação de testes especiais na investigação da integridade dos tendões. A ADM pode ser testada tendo o complexo da cintura escapular envolvimento nos movimentos de flexão e extensão, adução e abdução, rotação externa e interna, havendo combinação de todos os movimentos. O teste de força muscular do complexo do ombro envolve os movimentos de flexão, extensão, adução, abdução, rotação interna e rotação externa da articulação glenoumeral, juntamente à elevação e retração da escápula.
O tratamento da SIO consiste em repouso, compressas com gelo e o uso de antiinflamatórios. Caso não haja melhora, podem ser realizadas infiltrações com corticóide no ombro, objetivando reduzir a dor e a inflamação. Não havendo melhora, uma cirurgia aberta ou por artroscopia pode ser necessária.
O tratamento fisioterapêutico na fase inicial da SIO tem como objetivo a redução da dor e diminuição da inflamação, sendo importante evitar exercícios exagerados que possam agravar ainda mais o quadro agudo. Nesta fase, o uso da TENS (estimulação nervosa elétrica transcutânea) é indicada no controle e modelação da dor. O deslocamento do ombro com pequenos graus de abdução pode ser indicada para ajudar na descompressão articular, além dos exercícios pendulares.
Após alívio da dor e redução do processo inflamatório, os exercícios para ganho de ADM e melhora da flexibilidade dos músculos do ombro devem ser iniciados. A evolução do tratamento fisioterapêutico deve priorizar atividades de reforço muscular dos estabilizadores da escápula, porque a fraqueza do grupo muscular mantem alterado o ritmo escapuloumeral, proporcionando a impacto subacromial contínua. O trabalho de força dos músculos rotadores do ombro é fundamental na estabilidade e depressão da cabeça do úmero.
Em entrevista com o Fisioterapeuta Marcos Felipe Ramalho Cacheado, com formação em Terapia Manual, Pilates e Síndrome de Dominância Muscular, responsável técnico pelo setor de Pilates na Academia Espaço Aquarela LTDA. O mesmo relatou que a maior incidência de lesões em seu consultório é na articulação do ombro advinda de uma sustentação de postura inadequada por tempo prolongado associado à um desequilíbrio da musculatura estabilizadora da cintura escapular, ocorrendo uma biomecânica inadequada durante o movimento, resultando em compressão das estruturas subacromiais, consequentemente a dor e a incapacidade de realizar tarefas do cotidiano. Hoje em dia após controle da dor e da inflamação, é necessário a estabilização muscular do seguimento, independente da técnica a ser aplicada. Atualmente utiliza a técnica do Pilates para reabilitação, onde visa utilizar a mecânica dos aparelhos em prol do fortalecimento muscular em amplitudes e carga bem controladas, obtendo bons resultados em curto período de tempo.
