
Abordagem Clínica

Hálux Valgo
Os joanetes, denominação popular da deformidade do Hálux Valgo, consiste no desvio lateral do grande dedo (desvio da falange proximal do hálux sobre a cabeça do primeiro metatársico).
À medida em que se estabelece este desvio, vários outros, secundários, vão se instalando:
A. ocorre um deslocamento lateral dos tendões flexores e extensores e dos ossículos situados sob a cabeça do primeiro metatársico de forma que o hálux torna-se insuficiente.
B. começa a haver, por ação da pressão do calçado, um alargamento da porção interna da cabeça do metatársico formando uma saliência óssea globosa (exostose) que costumeiramente se denomina "joanete". Sobre essa exostose, forma-se uma bolsa sinovial sujeita a processos inflamatórios ou infecciosos (bursites) extremamente dolorosos.
C. os tecidos capsulares mediais tornam-se alongados e os laterais tornam-se encurtados ocorrendo, com o tempo, um enrijecimento destas estruturas na posição defeituosa.
D. os dedos laterais, principalmente o segundo, passam a sofrer a ação do grande dedo deslocado lateralmente e podem sofrer luxações dorsais, ventrais ou desvios laterais.

Enquanto cresce a deformidade, aumenta a exostose na face medial da cabeça do metatársico e agravam-se a bursite e a dor. A articulação metatarso falângica vai sendo luxada lateralmente até o ponto de completa incompetência do grande dedo que vai sendo gradativamente excluído da marcha e sobrecarregando os dedos laterais. Este estado pode ser notado pelo deslocamento progressivo do segundo dedo (e muitas vezes dos demais) e pelo aparecimento de calosidades plantares sob as cabeças dos metatársicos laterais.
CAUSAS
O Hálux valgo pode ser produzido pela ação direta dos calçados de pontas estreitas e saltos altos que forçam uma estrutura trapezoidal (o ante pé) a permanecer em um continente triangular (câmara anterior dos calçados). A elevação dos saltos, desloca o peso corporal para a frente do pé de forma a atuar como um agente de reforço para a produção da deformidade.
Outra causa freqüente é a presença de um desvio congênito do primeiro metatársico (metatarso primo varo), que torna o ante pé largo. Quando o pé é calçado, mesmo em sapatos não tão apertados, há uma desproporção entre o conteúdo e o continente e o grande dedo é empurrado lateralmente. Esta forma de Hálux Valgo aparece já no início do desenvolvimento do indivíduo - até em crianças - e recebe a denominação de Hálux Valgo Juvenil.
Os pés planos valgos do adulto podem, por propiciar uma marcha inadequada sobre a borda interna dos pés, produzir um deslocamento lateral do hálux gerando alterações características do hálux valgo. Os processos inflamatórios resultantes das artrites (Artrite Reumatóide, Artrite Psoriática, Gôta Úrica, etc...) são importantes causas na formação desta deformidade sendo as responsáveis, dentre todas, pelos casos mais graves.
Tratamento
Não há método conservador que sirva para o tratamento da deformidade já instalada de hálux valgo. O uso de afastadores interdigitais ou toda sorte de inventos não se mostrou eficaz para a redução das diversas anormalidades desenvolvidas pela deformidade.
O tratamento conservador (uso de calçados especiais com câmara anterior ampla e palmilhas de acomodação, tratamento das bursites e calosidades dorsais e plantares) restringe-se à prevenção do aparecimento do quadro completo, visa impedir a progressão ou apenas dar suporte àqueles pacientes que não disponham de condições gerais ou locais para serem submetidos ao tratamento cirúrgico.
Nas crianças e adolescentes portadores de Hálux Valgo, indicamos a utilização de aparelhos noturnos (órteses plásticas confeccionadas sob medida) para evitar a progressão do quadro. Estudo realizado na UNIFESP - Escola Paulista de Medicina demonstrou que não se consegue corrigir a deformidade já instalada, mas evita-se a rápida progressão dos desvios enquanto amadurece o aparelho locomotor. Vários pacientes tratados por este método durante a juventude optaram pelo tratamento cirúrgico definitivo em função da dor e do temor do agravamento do incômodo.
São inúmeras as técnicas descritas na literatura médica para o tratamento do Hálux Valgo. O critério de escolha de uma destas técnicas e sua aplicação dependem da análise do quadro clínico, das radiografias e do estabelecimento de metas e objetivos do paciente em conjunto com seu médico.
DICAS
1- Não há método de tratamento (conservador ou cirúrgico) que se aplique a todos os graus desta deformidade. Existem linhas de conduta que devem nortear o médico na escolha adequada do tratamento para cada caso em particular.
2. Não devemos subestimar o complexo de deformidades que compõem o quadro conhecido como Hálux Valgo. Não se trata de patologia de fácil resolução e a escolha da tática de tratamento adequada depende da experiência e formação do ortopedista. Esta é a principal razão pela qual deve-se optar pelo especialista em Medicina e Cirurgia do Pé para o tratamento destas afecções.
3. Não se deve, por outro lado, deixar levar pelas historias de pacientes insatisfeitos ou infelizes com seus tratamentos dos joanetes. O progresso da tecnologia e os avanços da Medicina introduziram novas técnicas e equipamentos que melhoraram grandemente os resultados mais recentes. É imperativa a escolha de pessoal atualizado e especializado na Medicina e Cirurgia do Pé a fim de evitar surpresas e acabar, de uma vez por todas, com a má fama que é atribuída popularmente tratamento do Hálux Valgo.
FISIOTERAPIA
Sabendo que o hálux valgo desenvolve-se pela sobrecarga gerada por um desequilíbrio biomecânico causado pela desestruturação muscular de todo o corpo, a Fisioterapia tem o papel de fornecer equilíbrio muscular para a tentativa de correção dessa alteração postural. Porém em casos mais graves o nosso trabalho é focado no alívio dos sintomas gerados. Fortalecimento muscular, principalmente do músculo Tibial Posterior (imagem) para levantar o arco plantar e do Abdutor do Hálux para realinha-lo.
Trabalho de conscientização corporal e do movimento. Pode-se utilizar mobilizações articulares e bandagens funcionais para propriocepção, no realinhamento do hálux e alivio das dores.
Procure orientação Médica e de um Fisioterapeuta ao menor sinal dos sintomas. Não deixe que o quadro se instale e se torne crônico.

ENTREVISTA
Entrevista concedida pela paciente A.C.T.V (18 anos), sobre o seu caso de Hálux Valgo. Quando ela resolveu procurar o especialista, quando foi diagnostica, como foi o procedimento da cirurgia, como foi o pós-operatório e como ela se sente depois de alguns meses após a cirurgia.
Pergunta: A Srta sentia dores do pé antes da cirurgia?
Resposta: Sim, eu comecei a sentir um incomodo no começo, porém ao fazer o uso de sapatos fechados e com salto as dores começaram a ficar mais fortes, até chegar o ponto de não conseguir usá-los mais.
Pergunta: Quando resolveu procurar um ortopedista?
Resposta: Resolvi procurar um ortopedista quando a dor começou a ficar intensa. Devido ao meu curso eu preciso utilizar sapatos fechados e com o aumento da dor não estava sendo mais possível utilizados, sendo assim procurei um especialista para saber o motivo da minha dor e se ela tinha cura.
Pergunta: Quando descobriu que estava com hálux valgo?
Resposta: Na primeira consulta com o ortopedista, ele já notou a presença da deformidade no pé, mas para fazer um melhor diagnostico me pediu para fazer um exame de raio-x, no mesmo dia realizei o exame e voltei em seu consultório. Após analisar o exame o doutor me confirmou o diagnóstico e me perguntou se eu aceitaria fazer a cirurgia, pois o meu caso era genético e a tendência era piorar com o tempo e, além disso, falou que como eu sou nova a recuperação era mais rápida. Pensei na ideia da cirurgia, mas aceitei, pois não aguentava mais a dor que estava sentindo.
Pergunta: Como foi o procedimento cirúrgico?
Resposta: A cirurgia foi feita em três partes: correção do hálux valgo; correção da extensão excessiva realizada pelo hálux; realinhar as falanges proximal e distal do hálux. Para realinhar o as falanges foi necessário provocar um fratura nelas e colocar dois pinos nas falanges, já para corrigir a extensão excessiva do hálux foi necessário mexer no tendão extensor longo hálux, e foi colocado um parafuso externo para imobilizar o dedo.
Pergunta: Como foi o pós-cirúrgico?
Resposta: O pós-cirúrgico foi doloroso, porém fiz o uso de medicamentos que gerou um alivio da dor. Durante uma semana não pude colocar o pé no chão, sendo assim tinha fazer o uso de muleta. Após esse período comecei a usar uma sandália de “Baruk” e sem ela eu não poderia encostar o pé no chão. Quinze dias depois da cirurgia retirei os pontos e continuei usando a sandália. Um mês se passou e foi retirado então o parafuso externo e sendo assim foi dispensado o uso da sandália.
Pergunta: A Srta. teve que fazer sessões de tratamento fisioterápico depois da cirurgia ? Resposta: Sim, realizei 30 sessões.
Pergunta: Quais exercícios foram realizados? Resposta: Foram realizados exercícios para ganho de ADM (amplitude de movimento), fortalecimento dos músculos posteriores da perna, ganho de equilíbrio e exercícios proprioceptivos, pois com a cirurgia perdi a sensibilidade da borda medial do pé.
Pergunta: Quanto tempo se passou desde a cirurgia? Como se sente depois da cirurgia?
Resposta: Já se passaram 4 meses desde a cirurgia. A cirurgia ainda está recente, portanto o meu pé ainda está um pouco inchado e com pouca flexão no hálux, mas já consigo fazer o uso de sapatos fechado e também usar alguns sapatos de salto.



